terça-feira, 30 de junho de 2009

Oralidade e escrita.

Essa postagem é o resultado do exercício reflexivo realizado sobre o texto FÁVERO, Leonor L. ANDRADE, Maria Lúcia S.V. AQUINO, Zilda G. O. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 6. Ed., São Paulo : Cortez, 2007

Oralidade e escrita

Todas as nossas ações sociais são permeadas pela atividade discursiva. Assim, a linguagem tem papel fundamental em nossas vidas. Para quem vai trabalhar com educação, principalmente a infantil deve ter noção de que é no processo de interlocução que as crianças se constituem como produtoras de textos orais, e é assim que vão buscar compreender as regularidades da língua.
O profissional que trabalha com educação deve compreender a complexidade da atividade oral e saber como trabalhar a oralidade com os alunos em processo de alfabetização.
Para melhor entender essa questão pesquisas foram realizadas (FÁVERO, ANDRADE, AQUINO; 2007) para nos ajudar a compreender com a fala se estrutura. O texto falado se desenvolve de acordo com a organização entre os participantes e caracteriza-se pela interlocução entre dois ou mais indivíduos, em forma de diálogo onde ambos se expressam alternadamente sobre assuntos diversos, baseando-se numa coletividade e não se pautando somente na interação.
A atividade conversacional se da através do diálogo, que pode ocorrer pessoalmente, via telefone, internet, etc. Esta atividade é composta por três elementos fundamentais: a realização, que seria a produção do falante, o que se fala; a interação, é o com quem se fala e como os indivíduos interagem; e a organização, é como o texto falado se organiza, ele segue uma seqüência de alternância dos falantes.
A atividade conversacional é constituída por algumas variáveis, que segundo Ventola (1979), são:

§ Tópico ou assunto – é o tema que dá inicio a atividade conversacional e mantém os participantes em constante interação;
§ Situação – é o contexto onde se da a atividade conversacional; pode ser influenciado pela maneira como se fala ou pelas expressões corporais;
§ O papel dos participantes – determina que em variadas situações de diálogo os participantes se comportarão de maneira diferenciada, alterando sua fala;
§ Modo do discurso – são os diferentes modos que nós submetemos à fala, de acordo com o grau de formalidade. Podemos citar como exemplo a diferença entre uma conversa informa e um discurso direcionado;
§ Meio – é o instrumento utilizado para que aconteça a comunicação, é realizada de forma oral, pessoalmente, via telefone, rádio, ou de forma escrita, via Internet.

No texto falado, podemos encontrar algumas características como a interação entre pelo menos dois falantes, onde ambos participantes mantêm uma compreensão sobre o discurso, quando há um equilíbrio na troca das idéias. Durante a atividade conversacional deve ocorrer também a troca de falantes, ou seja, deve haver alternância entre a fala dos participantes, o turno não pode ficar apenas com um falante.
Há ainda, a presença de uma seqüência de ações coordenadas onde o diálogo segue uma ordem, uma estratégia de organização do discurso: ínicio, meio, fim, pausa, cortes etc.
O texto falado transcorre num determinado tempo, é o período em que acontece a explanação da fala, onde há também um envolvimento numa interação centrada que seria o grau de envolvimento e atenção dispensada em relação ao tema que está sendo abordado e ao interlocutor.

A atividade conversacional, assim como a escrita, tem uma organização em sua estrutura que varia em níveis: Local que é a interação dos falantes, quando os turnos se alteram, uma fala após a outra, numa lógica seqüencial. Os turnos se organizam em pares e é a partir do primeiro turno que a atividade se realiza; e Global que é a maneira como o tema do discurso é conduzido, podendo haver interrupção, ou uma mudança brusca de tópico, e posteriormente uma retomada ao discurso inicial. Isso permite uma movimentação no tópico discursivo.
Tanto no texto falado quanto no texto escrito deve haver coesão e coerência para que o texto faça sentido, são fatores básicos que constituem a textualidade. Sendo assim, fazem parte, também da estrutura da conversação. Assim temos três tipos de coesão: Coesão referencial, que se caracteriza pelo uso continuo do mesmo vocábulo, há um excesso de repetição de palavras durante o desenvolvimento do texto falado; essas repetições ocorrerem devido a falta de agilidade do locutor no emprego de expressões mais refinadas para dar continuidade ao turno, além de contribuir para uma organização tópica.
O segundo tipo de coesão é a recorrencial, quando há substituição de um termo por outro equivalente, quando um item lexical é utilizado com caráter de substituição. E o último tipo é coesão seqüencial que se caracteriza pelo uso de conectores que promovem a continuidade e a conexão entre os turnos.
Dentre a estrutura da conversação encontramos conceitos que facilitam a compreensão da estrutura do texto falado. Nessa estrutura temos o turno que é definido como a produção do falante, no momento em que fala. Durante a interação, o turno pode ser qualquer intervenção dos participantes. O turno é considerado uma operação fundamental da conversação.
Para que haja a conversação deve haver o tópico discursivo, ou seja, o assunto em torno da qual, os participantes estabelecem a interação, assim, a conversa é sistematiza. O tópico se divide em: centração, conteúdo sobre o que se fala, o foco; organicidade, sistematização, a seqüência de organização do tópico; e delimitação local, demarcação da atividade sobre o tópico: ínicio, meio e fim.
Outro elemento que constitui o texto falado são os marcadores conversacionais,que seriam elementos (paralinguísticos ou não-linguisticos) de articulação do texto falado que asseguram a continuidade do discurso, são as entonações e gestos, as pausas e retomadas que permitem interação entre os interlocutores dentro do diálogo. Esses marcadores podem ser: simples, quando utiliza uma única palavra; compostos, “apresenta caráter sintático com tendência à cristalização”(pg.45); oracional, pequenas orações, em variados tempos e formas verbais; e prosódico, quando há o uso de entonação, pausa, hesitação, etc.
E por fim temos o par adjacente que seria o elemento básico da interação entre os interlocutores, logo que funciona como ponto de partida do diálogo, geralmente é uma pergunta, um convite ou uma saudação. Se subdivide em: introdução de tópico, da ínicio a atividade conversacional, pode ser iniciado com uma pergunta; continuidade de tópico, desenvolvimento do tópico, se da de acordo com a natureza da pergunta; redirecionamento do tópico, retomada do tópico anterior, através de uma pergunta, interrompido por uma digressão; e mudança de tópico, quando o assunto se esgota, a pergunta é introduzida para que haja mudança(local ou global)
Assim, podemos observar que a atividade conversacional é mais complexa do que se imaginava, e é importante que o professor saiba ao menos que há uma estrutura no texto falado para que ele possa desenvolver um trabalho que facilita a compreensão em torno da escrita, já que ela é originada da oralidade.