sexta-feira, 24 de julho de 2009

Avaliação do portifólio

Bem, chegamos ao fim do curso e como nos foi pedido, devo fazer uma avaliação final sobre o blog/portifólio.

Confesso que a idéia, de inicio assustou um pouco, pois era um método completamente diferente do que já estávamos acostumados, e com tal oferecemos um pouco de resistência. Porém, no decorre do período fomos desenvolvendo e aprendendo novas habilidades em relação a essa nova ferramenta de avaliação.
Com o blog, buscamos elaboras reflexões acerca da temática abordada ao longo do curso, analisando e discutido sobre os textos que utilizamos no decorrer das aulas. A construção do portifólio não foi um processo muito fácil até pela falta de conhecimento desse ferramenta.
Mas acredito que contemplei os descritos elaborados no inicio do curso , apesar da dificuldade inicial, fomos evoluindo, como em qualquer aprendizagem e acrescento que a experiência foi válida, na medida em nos possibilita incluir em nossa formação o uso de novas tecnologias que se fazem presente nessa sociedade.
Senti falta, apenas, de uma mediação mais evidente em relação as produções realizadas no percurso, o que nos deixou um pouco desnorteados em relação à construção do protifólio.
Passado esse semestre e alguns contratempos, superei as dificuldades apresentadas inicialmente e atendi aos descritores exigidos.

Considerações Finais

Ao longo do curso, discutimos sobre como se da o processo de alfabetizaçao das crianças e como o professor deve atuar diante do aluno que está iniciando a construção do conhecimento de escrita e leitura.
É importante para quem vai atuar nessa área adquirir informações suficientes para conduzir seu aluno ao longo desse processo, pois é uma tarefa díficil que requer muito envolvimento e atenção do profissional que está envolvido nessa atividade.
Torna-se inprencindível que o docente saiba como desenvolver e elaborar um bom trabalho, explorando toda a criatividade e curiosidade da criança, saber desenvolver atividades que contribuam para a formação do aluno, ou seja,o docente não deve se prender em metodologias engessadas que dificultam o processo de aquisição do conhecimento realizado pela criança.
É preciso ter conhecimento sobre as dificuldades que irão aparecer, além de agir como facilitador e mediador do conhecimento construido pela criança, deixando-a destar suas possibilidades sem menosprezar suas hipótese. Não esquecendo que os 'erros' que aparecem ao longo do processo de aquisição da escrita deve funcionar como indicativo de como o aluno emprega suas hipóteses.
Mesmo estando no décimo período e já ter realizados disciplinas que abordaram esse tema, os textos utilizados no curso TAELP contribuiram para a nossa formação, na medida em serviram como norteadores sobre o processo de alfabetização trazendo informações muito relevantes a cerca da atuação docente.
Para terminar gostaria de postra um vídeo. Esse não se trata de alfabetização, mas sim de educação; é um vídeo que trata de educação tecnológica, mas que traz considerações pertinetes à todo tipo de educação.
O vídeo inicia com uma explicação sobre elefantes que pintam, eles obedecem a seus instrutores e fazem pinturas em tela que são vendidas para pessoas. Mas a comparação que gostaria de fazer, depois que assisti esse vídeo é que o professor não deve tratar seus alunos como 'animais adestrados' que realizam o que é pedido simplesmente.Ele deve fazer com seus alunos desenvolvem a capacidade critica, que saibam pensar e sejam sujeitos de sua aprendizagem, não ficando como mero receptor de informações fornecida pelo professor.
Assim, devemos formar alunos reflexivos e co-participativos do processo de ensino aprendizagem, seja na educação infantil ou de qualquer outro segmento.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Alfabetização em processo

Ola galera, na última aula trabalhamos com o texto 'Alfabetização em processo' da Emília Ferreiro, que aborda os problemas cognitivos envolvidos na construção da representação da escrita e da linguagem.
Ferreiro é uma das autoras mais estudadas na área de alfabetização e, como tal não poderia ficar fora de nossas discussões.
O texto trás conceitos muito relevantes que auxiliam o professor das séries inicias a compreender melhor quais são as dificuldades de seus alunos e como eles vão construindo e evoluindo seus conhecimentos a cerca da representação da escrita.
Nessa investigação, Ferreiro chegou a alguns modos de representação que antecedem a representação alfabética da linguagem. Esses modos de representação são: pré-silábico, silábico, silábico-alfábetico e o alfabético; cada um deles representa a evolução no aprendizado da escrita. É através desses modos que se pode entender a 'lógica interna' da construção do conhecimento da linguagem escrita pela criança.
Ao longo do texto aparecem algumas dificuldades que as crianças apresentam no processo, como o problema de classificação para decodificar as letras e construir a escrita.
Outro conceito relevante é a 'hipótese da quantidade mínima'. A partir dessa hipótese a criança tem noção que deve haver um número mínimo de letras para formar palavras, ela já sabe que não dá para escrever com uma letra só, assim, a criança percebe que a escrita é composta de partes e começa a fazer uma relação entre o todo e as partes que constituem as palavras.Sabe que utilizando três letras é possível estabelecer o mínimo de compreensão. Assim, a criança vai testando suas hipóteses e sabe que um todo considerado incompleto se corresponde a um nome também incompleto, dessa forma, a palavra vai sendo constituída pela combinação dos elementos ou partes, a letra representa um pedaço da palavra.
Seguindo essa lógica, se chega ao princípio da 'quantidade mínima', onde a criança para escrever palavras no plural pode corresponder o número de letras ao número de objetos apresentados.
Uma questão interessante que Ferreiro trás é sobre tematizar,que seria sair do 'saber como' para o 'saber sobre', ou seja, sair do como se escreve e começar a entender o sentindo de como a palavra é organizada, é um certo grau de tomada de consciência, quando se alcança um nível de conhecimento, ampliando o universo linguístico. Mas, esse processo leva tempo e implica um grande esforço cognitivo para superar as perturbações da transição de conhecimento.
No processo de aprendizado da escrita, a criança chega à 'hipótese silábica', que é quando ela começa a corresponder uma letra para cada sílaba, isso serve, do ponto de vista do aluno, para justificar a escrita, trabalhando as possibilidades de formação da palavra. A partir daí, a criança deve resolver os problemas de correspondência, saber com quantas e quais letras deve utilizar para escrever.
Quando a criança tem a noção de que não pode repetir mais de duas vezes o mesmo elemento para constituir uma determinada palavra, ela está utilizando a 'variação interna'.

Utilizamos como leitura complementar o texto de Ana Teberosky e Teresa Colomer(A construção do conhecimento sobre a escrita), que traz a questão do ponto de vista da criança em relação à escrita, e como ela assimila as informações e constroi o conhecimento.
Nós já sabemos que a criança ao chegar na escola faz suas leituras, as chamadas leitura de mundo, ou seja ela já detém informações de que a comunicação também pode se dar por meio de palavras escritas. Mas, há um longo processo entre fazer a leitura de mundo e identificar e decodificar as letras.
De acordo com esse texto, uma das primeiras hipóteses que a criança utiliza para escrever é a construção do próprio nome, pois está é a primeira palavra que será utilizada para que o aluno se identifique.
Ao longo dessa texto, Teberosky e Colomer fazem observações específicas de todo o processo da construção do conhecimento realizado pela criança em seu processo de alfabetização, de quando ela começa a identificar as letras, decodificar rótulos e imagens até a etapa em que a escrita se concretiza.
Após essas leituras, fica evidente que o professor que trabalha com alfabetização deve saber identificar como a criança realiza esse processo,para saber conduzir o aluno que está desenvolvendo a percepção a cerca da escrita.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Oralidade e escrita.

Essa postagem é o resultado do exercício reflexivo realizado sobre o texto FÁVERO, Leonor L. ANDRADE, Maria Lúcia S.V. AQUINO, Zilda G. O. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 6. Ed., São Paulo : Cortez, 2007

Oralidade e escrita

Todas as nossas ações sociais são permeadas pela atividade discursiva. Assim, a linguagem tem papel fundamental em nossas vidas. Para quem vai trabalhar com educação, principalmente a infantil deve ter noção de que é no processo de interlocução que as crianças se constituem como produtoras de textos orais, e é assim que vão buscar compreender as regularidades da língua.
O profissional que trabalha com educação deve compreender a complexidade da atividade oral e saber como trabalhar a oralidade com os alunos em processo de alfabetização.
Para melhor entender essa questão pesquisas foram realizadas (FÁVERO, ANDRADE, AQUINO; 2007) para nos ajudar a compreender com a fala se estrutura. O texto falado se desenvolve de acordo com a organização entre os participantes e caracteriza-se pela interlocução entre dois ou mais indivíduos, em forma de diálogo onde ambos se expressam alternadamente sobre assuntos diversos, baseando-se numa coletividade e não se pautando somente na interação.
A atividade conversacional se da através do diálogo, que pode ocorrer pessoalmente, via telefone, internet, etc. Esta atividade é composta por três elementos fundamentais: a realização, que seria a produção do falante, o que se fala; a interação, é o com quem se fala e como os indivíduos interagem; e a organização, é como o texto falado se organiza, ele segue uma seqüência de alternância dos falantes.
A atividade conversacional é constituída por algumas variáveis, que segundo Ventola (1979), são:

§ Tópico ou assunto – é o tema que dá inicio a atividade conversacional e mantém os participantes em constante interação;
§ Situação – é o contexto onde se da a atividade conversacional; pode ser influenciado pela maneira como se fala ou pelas expressões corporais;
§ O papel dos participantes – determina que em variadas situações de diálogo os participantes se comportarão de maneira diferenciada, alterando sua fala;
§ Modo do discurso – são os diferentes modos que nós submetemos à fala, de acordo com o grau de formalidade. Podemos citar como exemplo a diferença entre uma conversa informa e um discurso direcionado;
§ Meio – é o instrumento utilizado para que aconteça a comunicação, é realizada de forma oral, pessoalmente, via telefone, rádio, ou de forma escrita, via Internet.

No texto falado, podemos encontrar algumas características como a interação entre pelo menos dois falantes, onde ambos participantes mantêm uma compreensão sobre o discurso, quando há um equilíbrio na troca das idéias. Durante a atividade conversacional deve ocorrer também a troca de falantes, ou seja, deve haver alternância entre a fala dos participantes, o turno não pode ficar apenas com um falante.
Há ainda, a presença de uma seqüência de ações coordenadas onde o diálogo segue uma ordem, uma estratégia de organização do discurso: ínicio, meio, fim, pausa, cortes etc.
O texto falado transcorre num determinado tempo, é o período em que acontece a explanação da fala, onde há também um envolvimento numa interação centrada que seria o grau de envolvimento e atenção dispensada em relação ao tema que está sendo abordado e ao interlocutor.

A atividade conversacional, assim como a escrita, tem uma organização em sua estrutura que varia em níveis: Local que é a interação dos falantes, quando os turnos se alteram, uma fala após a outra, numa lógica seqüencial. Os turnos se organizam em pares e é a partir do primeiro turno que a atividade se realiza; e Global que é a maneira como o tema do discurso é conduzido, podendo haver interrupção, ou uma mudança brusca de tópico, e posteriormente uma retomada ao discurso inicial. Isso permite uma movimentação no tópico discursivo.
Tanto no texto falado quanto no texto escrito deve haver coesão e coerência para que o texto faça sentido, são fatores básicos que constituem a textualidade. Sendo assim, fazem parte, também da estrutura da conversação. Assim temos três tipos de coesão: Coesão referencial, que se caracteriza pelo uso continuo do mesmo vocábulo, há um excesso de repetição de palavras durante o desenvolvimento do texto falado; essas repetições ocorrerem devido a falta de agilidade do locutor no emprego de expressões mais refinadas para dar continuidade ao turno, além de contribuir para uma organização tópica.
O segundo tipo de coesão é a recorrencial, quando há substituição de um termo por outro equivalente, quando um item lexical é utilizado com caráter de substituição. E o último tipo é coesão seqüencial que se caracteriza pelo uso de conectores que promovem a continuidade e a conexão entre os turnos.
Dentre a estrutura da conversação encontramos conceitos que facilitam a compreensão da estrutura do texto falado. Nessa estrutura temos o turno que é definido como a produção do falante, no momento em que fala. Durante a interação, o turno pode ser qualquer intervenção dos participantes. O turno é considerado uma operação fundamental da conversação.
Para que haja a conversação deve haver o tópico discursivo, ou seja, o assunto em torno da qual, os participantes estabelecem a interação, assim, a conversa é sistematiza. O tópico se divide em: centração, conteúdo sobre o que se fala, o foco; organicidade, sistematização, a seqüência de organização do tópico; e delimitação local, demarcação da atividade sobre o tópico: ínicio, meio e fim.
Outro elemento que constitui o texto falado são os marcadores conversacionais,que seriam elementos (paralinguísticos ou não-linguisticos) de articulação do texto falado que asseguram a continuidade do discurso, são as entonações e gestos, as pausas e retomadas que permitem interação entre os interlocutores dentro do diálogo. Esses marcadores podem ser: simples, quando utiliza uma única palavra; compostos, “apresenta caráter sintático com tendência à cristalização”(pg.45); oracional, pequenas orações, em variados tempos e formas verbais; e prosódico, quando há o uso de entonação, pausa, hesitação, etc.
E por fim temos o par adjacente que seria o elemento básico da interação entre os interlocutores, logo que funciona como ponto de partida do diálogo, geralmente é uma pergunta, um convite ou uma saudação. Se subdivide em: introdução de tópico, da ínicio a atividade conversacional, pode ser iniciado com uma pergunta; continuidade de tópico, desenvolvimento do tópico, se da de acordo com a natureza da pergunta; redirecionamento do tópico, retomada do tópico anterior, através de uma pergunta, interrompido por uma digressão; e mudança de tópico, quando o assunto se esgota, a pergunta é introduzida para que haja mudança(local ou global)
Assim, podemos observar que a atividade conversacional é mais complexa do que se imaginava, e é importante que o professor saiba ao menos que há uma estrutura no texto falado para que ele possa desenvolver um trabalho que facilita a compreensão em torno da escrita, já que ela é originada da oralidade.





sábado, 27 de junho de 2009

8ª e 9ª aulas - 16/06 e 23/06


Durante essas aulas, trabalhamos o texto "Prática de linguagem oral e alfabetização inicial de linguagem na escola: perspectiva sociolinguísticas" de Erik Jacobson.

Esse texto traz conceitos interessantes, como ' múltiplas alfabetizações' e 'bilinguismo', demonstrando que não há um único padrão de alfabetização, mas que existe diversas maneiras nas quais podem se organizar as práticas de leitura e escrita e é fundamental que o docente que trabalha com educação infantil saiba disso, contextualizando e trabalhando a diversidade dos alunos.

A linguagem oral em que as crianças se expressam está impregnada de marcas de seus grupos sociais de origem, valores e conheciementos, além disso, a criança recria a linguagem oral como forma de participar da sociedade.

É importante ir mostrando às crianças que há vários modos de falar, mas só há um modo de escrever. Uma possibilidade é focar na questão da regionalidade, explorando as entonações e os sotaques que existem em nosso país. As crianças podem criar com o auxilio do professor, explicações a cerca da escrita e das pronúncia das palavras. O docente tem a tarefa de mostrar que além da variadas formas de falar, há também diferentes maneiras de utilizar a escrita; porém o professor não deve se limitar ao ensino das habilidades de codificar e decodificar.
O professor também pode criar situações com diferentes formas de falar, trabalhando os turnos de fala, mostrando como a comunicação acontece e como a fala se organiza, esse tipo de atividade faz com que o aluno exercite a escuta o que vai facilitar a organização do pensamento. O professo deve procurar compreender os contextos das práticas de leitura e escrita de seus alunos, buscando saber como os eles entendem o valor da linguagem no mundo. Outra opção para trabalhar na alfabetização é a construção de textos, pois as histórias ajudam a desenvolver e expandir o vocabulário dos alunos, além de explorar a oralidade da crianças.


Abraços e até a próxima aula...



domingo, 21 de junho de 2009

Narrativa & Oralidade.

No decorrer das aulas foi possível perceber o quanto a questão da narrativa está intimamente liga ao aprender, justamente porque é através da fala que estabelecemos uma primeira comunicação com o mundo que nos cerca, e é por meio dessa comunicação que se transmite a cultura e os ensinamentos de um determinado grupo.
Nossa vida e nossas histórias são construídas pelas experiências que temos e como as transmitimos as outras pessoas, sendo assim, narrar foi o meio encontrado para relatar e compartilhar nossas vivências, expressar emoções, sentimentos e a imaginação.
A narrativa faz parte de nossa cultura, pois a todo o momento estamos relatando algo, estamos tecendo histórias, sejam reais ou fantasiadas. Essa cultura oral faz parte do ser humano e do seu processo de socialização.
Para ilustrar essa questão da narrativa trago esse vídeo. O vídeo é sobre o dia das mães, pois sabemos que são elas que, muitas vezes utilização a contação de histórias para enriquecer o imaginário dos filhos, mas o professor também pode desenvolver essa atividade em sala com seus alunos, lendo um livro, um conto ou simplesmente narrando uma história.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Por que alfabetizar com textos

Ao longo da disciplina, sempre discutimos a utilização de textos em turmas de alfabetização, ressaltando a questão de desenvolver o hábito da leitura, e aproveitar a riqueza do material escrito, mas sem reduzir as atividades à mera decodificação de palavras.
Aí vai a dica do por que alfabetizar com textos. Aproveitem.


POR QUE ALFABETIZAR COM TEXTOS:

O mundo da linguagem é o mundo dos textos orais e escritos. As crianças lidam com a linguagem como qualquer falante nativo. Para elas a linguagem é tudo que se diz e ouve, é um processo de interlocução que se realiza em práticas sociais.
As crianças constróem hipótese sobre a leitura e a escrita a partir da participação em situações nas quais os textos tenham uso social de fato.
Esta proposta de alfabetizar com textos implica em estabelecer relações com a língua numa perspectiva de letramento


1. Ser falante da língua portuguesa:
Todo falante tem um conjunto de regras interiorizadas. Uma gramática com todas as regras necessárias para usarem a linguagem de maneira perfeita. Engana-se quem pensa que é banal dizer que bebê tem dois pedacinhos e pertence a família do ba-be-bi-bo-bu. Para o aluno isto é fantástico! Pois eles aprenderam a falar no seu contexto natural e não precisam estudar os sons isolados para depois agrupá-los.

2. Saber a diferença entre desenho e escrita:
Desenho e escrita são representações gráficas, portanto, da mesma natureza. Toda escrita é uma forma de desenho, mas nem todo desenho é uma forma de escrita. O que distingue um desenho de uma escrita é o fato de o desenho referir-se a objetos do mundo e a escrita referir-se a linguagem oral, a palavra, a idéia.

3. Não se escreve com rabiscos, bolinha etc...
Distinguir desenho de escrita é um primeiro passo. As crianças usam rabiscos e bolinhas porque acham (com justa razão) que escrever é fazer uma representação gráfica associada a uma fala. É por essa razão que elas escrevem e lêem logo em seguida.
Porém a escrita é uma forma de representação do pensamento, e para garantir a função da escrita, que é a comunicação, e para que todos entendam, foi criado o alfabeto, que é uma convenção. Para uma escrita ter significado é preciso ser estabelecido um código, uma convenção para que todos possam entender.
O alfabeto é um conjunto de letras que são símbolos arbitrários e representam os sons vocálicos e consonantais que constituem as palavras.

4. A fala aparece na escrita segmentada em palavras:
Temos aqui duas idéias importantes. Do ponto de vista da percepção auditiva, a linguagem oral é um contínuo, interrompido às vezes por pausas. Não há nenhuma dica que mostre aos ouvintes onde começam e acabam as palavras. No entanto o nosso sistema de escrita exige que as palavras sejam escritas com um espaço em branco. Mostrando material escrito às crianças é fácil explicar isto.

5. O que é palavra: idéias & sons - letras e ortografia

A palavra é a unidade básica de qualquer sistema de escrita, inclusive no alfabético, por causa da ortografia. A noção de palavra não é importante somente como fruto da segmentação da fala para construir unidades de escrita. Ela tem a ver também com o significado. É também uma unidade de significado. Quando o aluno estiver tentando ler, ele precisará chegar até a palavra para dizer o que está escrito. Portanto, palavra é uma seqüência de letras que traduzem idéias, sons e tem um significado.

6. Controlar o significado das palavras nas segmentações:
Quando o aluno segmenta na fala para descobrir as fronteiras de palavras precisa ficar atento ao significado e se guiar por ele. Como os alunos estão acostumados a falar sem refletir lingüisticamente sobre a estrutura de palavras, é preciso que o professor faça exercícios para mostrar como podemos segmentar as palavras.


7. Como controlar as seqüências de sons das palavras nas segmentações:

Antes de aprenderem a escrever, as crianças têm uma excelente acuidade auditiva e facilidade para observar a fala como um todo. No entanto, quando se trata de teorizar sobre o que ouvem, fica tudo mais difícil. Sabendo desta situação, o professor deverá mostrar unidades sonoras menores que a palavra, fazendo-os observar rimas, sons iniciais, de nomes e de coisas, sons repetidos como parte de palavras. Procedimento como este levam quase sempre a identificação de sílabas e não de vogais e consoantes.

8. Saber segmentar a fala para a escrita: palavras, consoantes e vogais:
A partir de um enunciado oral, o aluno precisa identificar as palavras e os segmentos vocálicos que a compõem. Em seguida, precisa atribuir letras a esses segmentos vocálicos e reconstruir a palavra e, de palavra em palavra, chegar à frase. Trata-se de um trabalho sutil de cortar e colar, de desmontar e remontar a estrutura lingüística.

9. O alfabeto como um conjunto de letras:
Este conhecimento é uma decorrência dos fatos expostos anteriormente. Quando o aluno entende isto, irá procurar os recursos para aquilo que quer escrever recorrendo apenas ao alfabeto e não a outras coisas. Lembre-se que é uma etapa muito importante para o aluno quando escreve apenas com letras, mesmo que o faça com muitos erros. Logo é importante que o aluno tenha em mente que está lidando com um conjunto pequeno de símbolos e que não há nada fora dele.

10. O que é uma letra: unidade abstrata:
Há muitos parâmetros que definem o que seja uma letra. Trata-se de uma questão razoavelmente complexa na teoria como na prática. É preciso destacar que letras não são coisas concretas mas abstratas. Quando nos referimos a letra “A”, não estamos falando de nenhuma letra “A” em particular, mas de tudo o pode ser uma letra “A”.
Quem define o que pode e o que não pode ser uma letra “A” é a ortografia. Assim, de acordo com a ortografia, as palavras devem ser escritas com seqüências de determinadas letras e não de outras.


11. O nome das letras. Categorização gráfica: inúmeros alfabetos com as mesmas letras:
Em todos os sistemas de escritas, conhecer os nomes dos caracteres é a chave da decifração. Saber quais letras são é o primeiro passo de reconhecimento do material escrito para poder decifrá-lo.
Como as crianças se interessam pela escrita muito cedo e vão tentando aprender como ela funciona, inventam nomes para as letras. Assim, vão chamando as letras com nomes de pessoas e coisas. No contexto da vida, as crianças podem fazer como quiserem, entretanto, na escola, o mais aconselhável é que os professores ensinem os nomes reais das letras aos alunos o mais cedo possível.


12. Princípio acrofônico como chave da decifração da escrita:
Quem inventou o alfabeto o fez por meio de um princípio acrofônico. Escolheu uma lista de palavras que começavam com sons diferentes, de tal modo que todos os sons da língua estivessem contemplados. Em seguida escolheu um caractere para cada som que iniciava cada palavra. Esse conjunto de caracteres representando um conjunto de sons é o alfabeto. A história do alfabeto deixa bem claro como o princípio acrofônico foi o responsável pela criação do alfabeto e é a chave da decifração desse sistema de escrita. A ortografia veio ajudar muito o uso do sistema de escrita na sociedade, mas criou problemas com relação à representação dos sons pelas letras.
Como foi enfatizado várias vezes, não basta identificar as letras e atribuir a elas os sons possíveis através do princípio acrofônico e das normas ortográficas. Para se decifrar a escrita, é crucial que se chegue à palavra como um todo, quer no aspecto fonético, quer no aspecto semântico, um controlando o outro.


13. O princípio acrofônico é o ponto de partida/ o ponto de chegada é a ortografia:

Não basta lidar com o princípio acrofônico. Ele é um bom ponto de partida, mas não é o ponto de chegada, como as cartilhas e alguns estudiosos acham. Para se entender direito como funciona o sistema de escrita, como se lê e se escreve, é necessário ter uma compreensão bastante detalhada a respeito da ortografia como estruturadora de nosso sistema de escrita. Caso contrário os alunos ficarão sempre com dúvidas para ler e escrever, gerando medo e inibindo-os de fazer qualquer atividade que envolva ler e escrever.

14. Variação funcional das letras controlada pela ortografia/ Sistema alfabético ortográfico:

A ortografia controla o alfabeto, inclusive o valor fonético que as letras têm. O uso alfabético do alfabeto, ou seja, quando as letras representam sons independentes das palavras, gera o que se chama de transcrição fonética.
Muitas crianças recebem de seus professores uma idéia que as leva a escrever como se estivessem fazendo transcrições fonéticas. Em um primeiro momento, para dar mais liberdade e incentivar os alunos, escritas desse tipo podem ser feitas. Porém, é importante que seja dada uma explicação sobre ortografia, para que os alunos não fiquem pensando que o modo como estão escrevendo é o ponto de chegada.

15. A ortografia como forma congelada da escrita, neutralizando a variação lingüística:
Enquanto os alunos não se derem conta de que a ortografia é uma forma congelada da escrita, e que não reflete a fala individual de ninguém, vão ter sérias dificuldades para lidarem com os erros.

16. Palavras variam não só de acordo com regras fonológicas, mas também de acordo com regras morfológicas:
Alguns casos de variação vêm da dificuldade de relacionar fala e escrita na alfabetização, dificuldades típicas da escrita, por um lado e da fala por outro. Acontece, no entanto, que há problemas oriundos de outros níveis de análise gramatical. Assim, para saber escrever uma palavra como mal ou mau, é necessário saber que se trata de um substantivo, de um adjetivo ou de um advérbio.

17. Identificar outros sinais da escrita (além de letras), os acentos, os diacríticos, marcas, etc:
Para saber ler é preciso distinguir sinais de pontuação e demais marcas da escrita do conjunto de formas gráficas que forma o alfabeto.


18. Aspectos secundários das letras: tamanho, direção, linearidade, especialidade, maiúscula, estilo, caligrafia, etc.
Embora não costumem interferir de maneira perniciosa no aprendizado da leitura e da escrita, certos aspectos físicos da grafia da escrita podem atrapalhar. Mesmo não atrapalhando, são aspectos importantes da cultura escrita e devem ser abordados pela escola.

19. Ler não é só decifrar os sons das letras e das palavras, mas conseguir pensar uma mensagem elaborada por outras pessoas e representada na escrita:
À medida que o processo de leitura vai se sofisticando, exigi-se um maior esforço mental da parte do leitor porque ele precisa entender algo que foi pensado e organizado por outra pessoa, mas acessado por ele através da escrita.



CONCLUINDO...
As noções que foram apresentadas representam o que há de mais importante para uma pessoa poder dizer que sabe como se faz para ler uma simples palavra como pote. Um professor que não souber lidar com esses conhecimentos não terá condições de controlar o processo ensino - aprendizagem na alfabetização.


Material produzido baseado em: MASSINI-CAGLIARI, Gladis & CAGLIAR, Luiz Carlos. Diante das letras. Campinas, Mercado de Letras,1996